em resumos

Fazia um bom tempo que a Arte de Viver do Epíteto (também traduzido como Discursos, O Manual de Epiteto ou O Manual para a vida) estava na minha lista de leitura, mas não tinha priorizado. Reiniciei uma vibe mais intensa de autoconhecimento nas últimos meses, daí casou um contexto legal, além da indicação de uma amiga para retomá-lo.  

A leitura super valeu a pena. Não só pela mensagem, mas o exemplo de vida do filósofo romano que nasceu como escravo, conquistou liberdade e se tornou uma pessoa eminente na sua época – o imperador Marco Aurélio foi discípulo dele para vocês terem uma idéia. 

Para quem ainda não fez pazes com a filosofia por achar que os caras viajam demais na maionese, tá aqui uma escola com uma pegada bem prática e ferramental para ser viver uma boa vida.

Então, neste texto vou contar um pouco da história do grande Estóico mais uma resenha crítica no formato de 20 conselhos para viver com liberdade e felicidade que extraí dessa obra riquíssima.

Arte de Viver: Sobre Epíteto

Epiteto

Epíteto. Fonte: Daily Stoic

Epíteto não deixou escritos filosóficos. Assim como Platão fez com Sócrates,  Flávio Arriano compilou os principais pontos do filósofo a partir de suas palestras.

Esse agregado originalmente gerou 8 livros – compêndio conhecido como”Discursos” – dos quais apenas 4 sobreviveram ao tempo.

(Inclusive, não é um livro fácil de encontrar até hoje. Bem esgotado mesmo.)

Sobre sua história, ele nasceu de 55 d.C. onde hoje é a Turquia. Seu senhor era secretário administrativo de Nero. Epafrodito – seu dono – admirado com sua inteligência o mandou à Roma para estudar.

Ao se tornar o aluno mais destacado de Musônio Rufo, acabou conquistando liberdade.

Ficou em Roma ensinando até ser expulso em 94 d.C., porque Domiciano estava se sentindo ameaçado pelos filósofos no seu império.

Em seguida foi para Nicópolis, no noroeste da Grécia, onde passou o resto da sua vida fazendo palestras sobre como viver com mais dignidade e tranqüilidade.

Considerada como o “Budismo do ocidente”- por focar na essência divina dentro do indivíduo – sua obra basicamente se ocupou de responder às seguintes perguntas:

  1. Como viver uma vida feliz e plena?
  2. Como posso ser uma boa pessoa?

Para ele, ser filósofo é separar o que é verdade do que é meramente uma série de acidentes desencadeados por falha de razão, padrões culturais, lições bem intencionadas mas falhas dos nossos pais e professores.

Então, para aliviar o sofrimento da nossa alma, a gente inicia um trabalho de introspecção e uma jornada para ganhar consciência dos nossas crenças e hábitos produtivos e improdutivos do ponto de vista da liberdade, felicidade e sabedoria.

uma vida feliz e uma vida virtuosa são sinônimos. Felicidade e realização pessoal são consequências naturais de atitudes corretas. 

Sobre suas Premissas & Definições 

Arte de Viver

Antes de entrar nos conselhos, é importante estarmos na mesma página das premissas de que ele parte e chegar a termo das palavras usadas.

Premissas

  1. A principal função da filosofia é ajudar pessoas comuns a enfrentarem os desafios da vida e a lidar com as perdas inevitáveis como a dor, a doença e a morte.
  2. Felicidade e liberdade derivam do entendimento do seguinte princípio: há coisas que estão no nosso controle e que estão fora dele.
  3. Todo mundo tem a oportunidade de praticar a bondade, independente de ser rico ou pobre, religioso ou laico, com ou sem educação formal.

Definições

  1. Liberdade é saber separar o que podemos controlar e o que não podemos, para agir sobre o primeiro e aceitar o último.
  2. Felicidade é um ato contínuo e dinâmico de atos de valor.

Agora, vamos às sugestões do autor para uma vida plena e feliz…

1. Separe o que pode controlar do que não

Arte de viver

Não poderia começar por outro ponto que não este, já que é a base de tudo:

Aceitar os limites e trabalhar com eles ao invés de lutar contra é o caminho para a liberdade.

Opostamente, se a gente errar em colocar nossos desejos em coisas que estão fora do nosso controle, a liberdade é perdida.

O que está no nosso controle? Nossos desejos, aspirações e as coisas que nos repelem.

Isso deve ser da nossa conta, porque são variáveis sobre que conseguimos agir. Nós sempre temos como interferir naquilo que é interno.

O que está fora do nosso controle? O corpo em que nascemos, em que família nascemos, o nosso prestígio social…

Devemos nos lembrar de que isso são fatores externos, então não devemos nos preocupar com eles. Tentar controlá-los só tende a gerar mais ansiedade.

A gente deve focar naquilo que pode controlar e ser consciente do que não é da nossa conta.

Pratique intencionalmente a indiferença aos fatores externos.

Nesse ponto aqui eu lembrei da prática do Tim Ferriss, autor do livro trabalhe 4 horas por semana…  inspirado no estoicismo, de tempos em tempos, ele simula situações de escassez, usando as mesmas roupas e comendo comida de 1 dóllar durante 1 semana para se vacinar contra o medo da pobreza.

Voltando ao raciocínio, que ressoou bastante para mim:

Vai acontecer com todo mundo… Se não não aconteceu contigo, relaxe… a vida vai te pegar cedo ou tarde. Ela vai ter dar um chacoalhão.

Ninguém.. seja rico ou pobre. Ninguém está a salvo.. A vida dá e toma…

Você vai perder algo ou alguém precioso.

Talvez isso seja sua casa, seu trabalho, seu casamento, uma amizade, um bem, sua reputação, sua mobilidade, sua saúde ou qualquer outra coisa sem o que você vai precisar seguir em frente e dar um novo significado à vida a despeito dos ganhos e perdas.

O estoicismo pode ser um bom remédio para essas horas, um farol que indica o caminho para fora do desespero; um antídoto para as “doenças da alma”.

2. Comporte-se como adulto

arte de viver

Gostei bastante de escutar esta mensagem… me fez lembrar inclusive das situações de irritação ou incômodo a que me permito com a família e amigos…

Ninguém pode te ferir. Ninguém tem esse poder sobre você.

Mesmo se alguém falar algo que te irrita, mesmo se te xingam, é sua escolha enxergar o que está acontecendo como um insulto ou não.

Se alguém tá “te irritando”, é somente a sua resposta à situação que te irrita.

Por isso, da próxima vez que alguém parecer estar te provocando, lembre-se de que é apenas o seu próprio julgamento do fato que gera a sensação.

Não deixe suas emoções subirem por meras aparências.

Tente não reagir no momento. Caia fora da situação. Olhe de cima, respire fundo. É só um hábito gerado por condicionamento social que precisamos desaprender.

O trecho seguinte foi um ótimo lembrete para eu não me preocupar tanto com as opiniões externas, que geralmente deixo me afetarem mais do que gostaria..

Não tenha medo das críticas. Apenas os fracos sentem a compulsão de se defenderem ou se explicarem para os outros.  

Deixe suas atitudes falarem por você.

não podemos controlar as impressões que outros possuem de nós e o esforço para tentar controlar isso só desestabiliza nossa moral.

Então, da próxima vez  que alguém te disser “me disseram que…”, não se preocupe em se defender.

Apenas sorria e responda:

Exceto por abuso físico extremo, ninguém – pais, irmãos, chefes, filhos, amigos e etc – pode te ferir a não ser que você permita.

Não permita ser ferido e você não será. Isso está no seu controle.

3. Seja Profundo

arte de viver

Conforme compartilhei em eu não sou um cara produtivo, foco em uma coisa só nunca foram o meu forte.

Não acho que devo tomar ao pé da letra, mas não faz mal escutar as intenções de consistência por detrás dessas palavras, né?

A menos que a gente se entregue de corpo e alma aos nossos desafios, seremos pessoas ocas, superficiais e nunca desenvolveremos nossos talentos.

Todos nós conhecemos pessoas que, buscam tudo que é moda e tendência. Daí, passa um tempo e perdem o entusiasmo e param de se esforçar.

Deixam o projeto de lado no primeiro momento em que as coisas parecem mais ou menos familiares ou exigentes.

4. Valorize sua família

Valorize sua familia

Na obra Propósito: A coragem de ser o que somos, Prem baba traz que a maioria dos nossos bloqueios e repressões têm raiz na nossa infância, porque geralmente não temos discernimento suficiente para nos proteger das situações nessa fase da vida.

Inevitalmente, os pais geram conflitos emocionais em seus filhos mesmo com a melhor das intenções, pois nossos avós, por sua vez,  fizeram o mesmo com eles.

É tipo um círculo vicioso sem fim através da gerações.

Então, é muito importante ganhar consciência do que são essas travas e perdoar nossos pais, se queremos ter paz interior e melhorar a qualidade dos nossos relacionamentos. E também, se não quisermos passar para nossos filhos os mesmos dramas, né?

Tudo isso me fez lembrar dessa passagem aqui:

Se você tem um pai ou uma mãe, você possui certas obrigações emocionais e práticas.

A natureza ligou vocês por um laço que não se desfaz.

Você tem a obrigação de cuidar deles, de escutar suas sugestões (exercitar a paciência diante das opinião deles se for o caso) e respeitar suas orientações.

Agora, vamos supor que seus pais não sejam “bons pais”. Talvez os dois ou algum deles tenha pouco discernimento, pouca instrução, maus modos ou possuem uma visão de mundo diferente da sua.

Eu tenho uma pergunta para você..

A natureza dá para todo mundo pais ideais? Aliás, ela dá pais para todo mundo?

Não importa as características do seus pais, tudo isso é secundário.  

A ordem divina não coloca as pessoas ou circunstâncias segundo nossos gostos.

Tire o foco do que eles fazem ou deixaram de fazer e abrace o seu papel de bom filho ou filha.

Aceite essa realidade, isso é uma daquelas variáveis que você não controla.

Assim, estará mais próximo da liberdade.

Deixe os outros (incluindo principalmente seus pais) se comportarem do jeito que quiserem, isso não é seu problema.

Compreenda que a natureza dispõe as coisas segundo uma razão, mas que nem tudo na natureza é razoável.

5. Deixe o ímpeto de ajudar falar mais alto

A arte de viver

Apenas aceite seus impulsos de ajudar.

Não os questione, ainda mais se tá na cara que algum amigo precisa ajuda; apenas aja.

Não hesite!

Pare de especular sobre possíveis inconvenientes, problemas ou perigos.

Desde que você tenha um mínimo de acuidade mental, estará seguro.

É nosso dever ajudar nossos amigos quando precisarem.

????

6. Escolha bem suas companhias

arte de vier

Uma das duas coisas (ou as duas) vão acontecer quando se aproximar de alguém:

Ou vai ser influenciado ou vai influenciá-lo.

Da mesma forma que o carvão frio entra em contato com um em brasas:

Ou eles dois apagam ou pegam fogo de vez.

O perigo é grande… principalmente para aqueles de coração mole.

A maioria de nós ainda não possui firmeza suficiente para atrair companhias próximas que tem a ver com nosso propósito, então acabamos sendo arrastados pela multidão.

Nossos valores e ideias ficam contaminados e confusos; nosso discernimento perde força.

É difícil não se envolver se seus amigos estão falando coisas “baixo astral”.  A gente é arrastado pelo momentum social.

Então, até que você tenha suficientemente firme o instinto de autodefesa e influência positiva, escolha seus amigos, colegas e vizinhos com cuidado.

Todas essas pessoas têm o poder de mudar seu destino.

O mundo está cheio de pessoas talentosas e que buscam as mesmas coisas que você.

A regra de ouro é: escolha pessoas que te joguem pra cima, pessoas que despertem o melhor dentro de você.

Confesso que essa é uma das razões por que escrevo. Acredito que colocando para fora o que penso, eventualmente vou conhecer pessoas na mesma vibe.

7. Mantenha o nível das suas conversas

A arte de viver

A idéia não é se restringir a conversas sublimes ou filosofia, mas esteja consciente de que há tipos de conversa que têm efeito corrosivo para o caminho de felicidade e liberdade.

Quando na maioria do tempo a gente conversa sobre coisas ordinárias, a gente se torna ordinário, porque nossa mente tá cheia de trivialidades.

A gente se torna aquilo para que a gente dá atenção.

Se a galera puxar conversas indecentes ou que não chegam a lugar nenhum, caia fora se puder.

Se não conseguir, no mínimo fique calado ou faça cara de sério para mostrar que você não tá curtindo a vibe.

Outra opção – essa envolve mais traquejo –  quando você vir que o nível da conversa começar a cair, tente mudar de assunto sutilmente para temas mais alto astral.  Se estiver no meio só de estranhos pode ser mais difícil…

Bom humor e risadas são super saudáveis, principalmente quando não acontecem em detrimento de algo ou alguém.

“Ria com”, mas não “ria de”.

8. Não busque validação dos outros

A arte de viever

Nunca dependa do apreço dos outros. Não há nada de inteligente nisso.

Mérito pessoal não poder vir de uma fonte externa. Ele não deve vir das pessoas.

O fato é que as pessoas, mesmo as que te amam, não vão necessariamente concordar com suas opiniões ou compartilhar os mesmos interesses.

Bem verdade isso, né?

Cresça!

Quem se importa com o que os outros pensam de você…

Crie seu próprio mérito!

Associe-se com pessoas excelentes.

Dê seu melhor no seu trabalho. E não se preocupe se estão vendo ou não.  Faça seu trabalho independente do reconhecimento dos outros.

Mérito vicário não existe.

Quando surgir algum problema, não dramatize ou fique andando em círculos.

Volte para dentro de si e se pergunte o que pode fazer para lidar com eles. Cave profundamente.

Você possui poderes que nem sabe que tem. Ache apenas um deles e utilize.

Admito que gostaria de saber como me conectar mais com a intuição para poder acessar esses recursos internos.. Se tiver alguma experiência, compartilha aí nos comentários!

Um grande sinal de quem vive com sabedoria é a serenidade.

O progresso ético nos libera das tormentas interiores. A gente para de se preocupar.

Pare com os padrões do tipo:

“Se não trabalhar mais que os outros, ninguém vai me reconhecer… eu nunca serei alguém na vida…

“Se eu não criticar meu funcionário, ele vai se aproveitar da minha boa vontade…”

Essas coisas estão fora do seu controle!

A verdade é que ao tentarmos agradar as pessoas, perdemos o poder sobre o que está na nossa zona de influência.

Pare de colocar energia em ser visto como sofisticado, único ou inteligente.

De fato, fique de olho se você começar a parecer “especial”. Isso pode fazer você também perder o foco por vaidade.

Acho que vale bastante considerar o contexto… Se podemos agradar aos outros e isso não vem em detrimento de nós mesmos, não vejo conflito…

E pare de se comparar com qualquer outra pessoa que não seja você mesmo. Se comparar é buscar controlar uma variável externa, ou seja, perda de liberdade e felicidade.

Pessoas inteligentes olham para dentro de si quando desafiadas; se são criticadas, elas sorriem e continuam seu caminho, pois não precisam se defender.

Mantenha-se em harmonia com sua verdade. Se tentar controlar a impressão dos outros, você vai perder seu poder interno.

Ótimo insight para evitar comparações! ????

9. Cultive a modéstia

A arte de Viver

Nesta passagem aqui me lembrei das premissas do minimalismo::

Preste atenção na medida das suas coisas da sua vida para prevenir a tendência ao excesso.

Nossas posses devem ser diretamente proporcionais às necessidades do nosso corpo, da mesma forma que um sapato entra no pé.

Sem treinamento ético, nós tendemos ao excesso.

No caso dos sapatos, vários são tentados a comprarem sapatos sofisticados e exóticos, quando precisamos apenas de sapatos confortáveis e que duram.  

10. Cuidado com as aparências aparencias

Esta aqui eu tomo totalmente pra mim e me faz lembrar de uma amiga iraniana que me disse uma frase em 2012 – quando uma guria tinha terminado namoro comigo – que nunca saiu mais da minha cabeça:

 

Beleza interior vale muito mais do que a exterior.

As mulheres em especial são mais afetadas nesse ponto por receberem mais atenção pela beleza do que os homens infelizmente. Quando jovens, são muito avaliadas em termos da sua beleza física.

Isso gera uma pressão para que a mulher sirva de objeto de beleza, ao passo que seus talentos internos vão se atrofiando.

A mulher pode sentir uma pressão para colocar muito tempo e energia para dar “um up” na sua aparência e deixa de ser ela mesma para agradar aos outros.

Enfim, quem busca sabedoria uma hora compreende que apesar do mundo nos recompensar por motivos superficiais, tipo a aparência física, o sobrenome da família, e assim por diante, o que realmente importa é o que somos por dentro e quem estamos nos tornando.

11. Tome cuidado com os “Passo a Passo”

a arte de viver

Uma vida plena não é atingida através de técnicas.

Não existem truques para uma vida bem vivida.

Não existe essa de “5 passos simples para”.

Uma vida plena depende da nossa resposta para as coisas que são da nossa responsabilidade.

Não escute ao que as pessoas dizem.

Apenas observe o que elas fazem e avalie os resultados.

Tão atual que até parece que foi escrito nesse século. ????

12. Coloque o bem coletivo na frente do individual

Terra

Não se pode chegar a felicidade e liberdade sem ao mesmo tempo promover o bem estar das pessoas.

Uma vida centrada em interesses mesquinhos não é sustentável

Buscar o melhor em nós mesmo significa cuidar do bem de outras pessoas.

E a dinâmica não inclui apenas as pessoas do nosso círculo e que podem atender aos nossos interesses próprios.

Você pertence à grande comunidade mundial, então aja de modo coerente.

Isso apenas me reforça o quanto faz sentido ser nômade digital ou simplesmente viajar como exercício de compreender que não importa as diferenças culturais, a comunidade global é uma só.

13. Leia livros, mas não apenas

livros

Gostei muito de escutar isso, porque – não sei vocês – mas vejo como desafio saber a hora de parar de pesquisar e experimentar algo. Saber quando já é suficiente para colocar em prática:

Livros são “o supino reto” da mente.

Não diga apenas que lê livros.

Mostre que você aprendeu a pensar, refletir e discernir melhor.

São extremamente importantes, mas é um erro achar que só memorizar o conteúdo deles é suficiente.

E, fique de olho para que sua busca por sabedoria na verdade não adie sua aquisição.

Em outras palavras, pare de buscar novos professores constantemente sem fazer o dever de casa.

O sábio, o livro, a dieta ou a crença não te move para uma vida plena. Você sim.

Deixe de lado as fontes externas de uma vez por todas.

Pratique a auto suficiência.

Torne-se o médico da sua própria alma.

14.Não leve as coisas pro pessoal

Hulk

Quando alguém agir de forma não educada contigo, independente do que tiver feito, o filósofo recomenda pensar o seguinte:

“Se eu fosse essa pessoa e estivesse encarando os mesmos problemas, nascido na mesma condição, com os mesmos pais, será que não teria me comportado da mesma forma?”

Não conhecemos a história das pessoas e suas batalhas internas, então faz sentido termos paciência e reconhecer os limites em jogo.

Isso não significa ser conivente, mas tentar entender o contexto e reconhecer que geralmente a intenção lá no fundo é boa.

Mesmo se a intenção não for positiva, a melhor resposta a se dar é ter compaixão pela pessoa, uma vez que ela perdeu a maior capacidade que um ser humano pode ter: a de julgar o que é saudável ou não para si mesmo.

Ela acabou de perder sua paz interior.

Então da próxima vez, em lugar de ódio ou raiva, tenha pena.

15. Cultive a bondade

Bondade

Talvez o “melior’ ???? argumento do porquê ser bom que vi até agora:

A prática da virtude e felicidade são sinônimos. Não funciona “eu serei bonzinho para conseguir xyz” .

A bondade é o meio e o fim em si mesmo. É a prática e a recompensa inseparadas.

Não é ostentar boas maneiras, mas uma série de ajustes do nosso caráter que levam tempo.

A gente vai alinhando nossos pensamentos, palavras e atitudes progressivamente numa direção saudável.

A virtude mora na intenção e atitude, não nos resultados.

Porque devemos ser bons?

Ser bom é ser feliz. Estar tranquilo e livre de preocupações.

16. Seja Racional, mas racionalidade não é tudo

Racionalidade

A razão é a melhor faculdade que possuímos para manter nossa integridade.

Porém, racionalidade não é tudo.

Existem vários domínios da vida que a razão não consegue acessar… Os maiores mistérios da existência estão além dela.

Sério mesmo… fiquei bastante admirado ao ver um sujeito filósofo romano naquela época admitindo isso…

realmente fazendo jus ao apelido de “Budismo Ocidental”.

17. Mantenha discrição dos seus projetos

mantenha discrição

Esse ponto aqui, acredito que não deva ser uma preocupação se estiver resolvido o quesito de “escolhas boas companhias”:

Tome cuidado para não discutir assuntos importantes com pessoas que não são importantes para você.

Assim, você evitar tornar ordinário algo que era precioso.

Evita minar suas próprios esforços, ainda mais quando alguma iniciativa é recém nascida.

Tem várias pessoas que ficam urubuzando nossas intenções. Algumas até tentam nos desanimar.

Deixe seus planos incubados o suficiente até chegar o momento de torná-los públicos.

Dar vontade de compartilhar, mas vale a pena praticar a contenção para que nosso entusiasmo não seja comprometido.

18. Aprenda a substituir hábitos

Substituir hábitos

Quem já leu o Poder do Hábito percebe muita semelhança na idéia trazida aqui.

O que mais me chamou atenção porém, é a perspectativa de que não só hábitos mais concretos (correr, ler, estudar), mas hábitos mais sutis (raiva, ódio, inveja, ciúme e os “pecados capitais” em geral) também seguem o mesmo princípio:

Cada hábito é reforçado pela ação correspondente.

A ação de caminhar reforça o hábito da caminhada, a corrida regular nos faz melhores corredores.

O mesmo vale para os assuntos da alma.

Se deixar te irritarem, só vai reforçar o hábito da raiva… só colocou mais lenha na fogueira.

Se não quiser ter pavio curto, então não alimente o hábito.

Se não der bola para os nervos, vai ver que o hábito será substituido.

Exercite não reagir no começo e conte os dias em que não estourou.

Com o passar do tempo, você deixará de ficar com raiva “sempre”, depois “na maioria das vezes”, depois “de vez em quando” até que o hábito da calma tenha ocupado o espaço.

19. Abrace o poder do agora

poder do agora

Sim, a mesma pegada do Poder do Agora do Eckhart Tolle!

O tempo de viver é agora. De viver plenamente o que está acontecendo agora.

Pare de ser expectador. Participe. Se jogue. Respeite sua conexão com a natureza.

Volte para dentro de si e pergunte:

Como eu posso aproveitar da melhor esse momento para potencializar o fluxo da vida?

Preste atenção e se entregue.

Mesmo quando as portas parecerem fechadas e a sala estiver escura, você não está só.

A providência divina atua e o gênio está dentro de nós. Escute-o. Siga suas instruções.

No que toca a arte de viver, a sua vida é o principal material de estudo.

20. “Coloque o seu na reta” se quiser uma vida plena

A arte de viver

Para fechar com chave de ouro???? :

Lá no fundo a maioria de nós gostaria de viver em um mundo íntegro e livre de corrupção.

Que bom seria viver num mundo com mais confiança, generosidade e tolerância.

Entretanto, ninguém quer colocar o seu na reta e ser o idealista inocente que vai primeiro.

Ninguém quer ser o idiota.

Ninguém quer pagar o preço.

Não é porque somos preguiçosos.

É simplesmente porque temos medo, medo das incertezas da vida.

A maioria são boas pessoas, mas não excepcionalmente boas.

A maioria cultiva pensamentos, palavras e atitudes  que se conformam ao que é moralmente aceito pelos padrões da sua época para manter as amizades, comércio e prevenir o caos.

Enquanto isso acontece, sentimos com frequência uma estranha nostalgia do que seria viver com virtude, isto é, com felicidade, liberdade, plenitude.

Os estóicos compreendem que a ansiedade, falta de propósito e medo da perda é uma consequência do nosso próprio exílio da virtude.

E esse é justamente o jogo deles.

Eles preferem ser virtuosos do que serem legais, defensivos ou conservadores.

A virtude é o único bem não condicional.

Outros ativos como amizades e simpatia, são bens extremamente valiosos, mas são condicionais.

A virtude é suprema.

É o único caminho para dentro de nós mesmos e o sentimento autêntico de conexão com os outros e a natureza.

 

Pensamentos Soltos

Arrogância é uma máscara da covardice e o maior obstáculo para uma vida plena. Raciocínio claro e vaidade não podem coexistir.

Quando nossos pensamentos, palavras e ações estão alinhados, tudo flui mais fácil e o medo vai embora.

 

Meditação da Serenidade:

“Providência divina, me dê serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, ter coragem para mudar as que eu posso e sabedoria para saber distinguí-las.”

A morte nada de terrível representa por si, assim teria parecido ao próprio Sócrates, mas o julgamento da morte como algo terrível, isso sim é um mal.

O mal não existe naturalmente no mundo, nos eventos ou nas pessoas. O mal é um subproduto do esquecimento, preguiça e distração: ele acontece quando perdemos de vista nosso propósito.

A verdadeira finalidade da filosofia é aprender a viver.  E aprender a viver é o mesmo que alcançar a vida boa ou felicidade. Alcançar a vida boa deve ser aquilo que a filosofia nos permite ao ensinar a virtude, a qual se traduz numa vida de simplicidade, de autodomínio e de aceitação das circunstâncias que não dependem de nós.  

E você?

O que achou dos conselhos do Epíteto?

Se identificou em especial com algum?

O que achou da proposta prática da filosofia estóica?


A leitura super valeu a pena. Não só pela mensagem, mas o exemplo de vida do filósofo romano que nasceu como escravo, conquistou liberdade e se tornou uma pessoa eminente na sua época – o imperador Marco Aurélio foi discípulo dele para vocês terem uma idéia. 

Para quem ainda não fez pazes com a filosofia por achar que os caras viajam demais na maionese, tá aqui uma escola com uma pegada bem prática e ferramental para ser viver uma boa vida.

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  1. Eu fiquei muito triste por ter começado a ler tardiamente sobre filosofia. Assim como você citou, eu também tinha um preconceito danado. Pra minha sorte comecei a me envolver com gente interessada no assunto.

    Quanto ao estoicismo, conheci pelo Tim Ferris. É sempre importante ressaltar que essa é uma escola bastante prática. Você lê uma ou duas páginas para passar dias ou até semanas praticando, para depois retomar a leitura.

    Seu artigo veio em boa hora para mim. Agora é COLOCAR EM PRÁTICA!
    Valeu Mathias!

    • Top Jordan! Filosofia é sistema operacional cara… Até as escolas especulativas tem muito a oferecer em termos de lógica, indução, raciocínio crítico, tomada de decisão – que servem pra tudo ma vida né? Sou newbie tbm, mas não tenho dúvida de quem estuda e pratica filosofia, joga um outro jogo 😉 tamujuntu

  2. Maravilhoso seu texto! Obrigada por falar um pouco dos benefícios práticos da filosofia – sempre tive vontade de me aprofundar mais mas… com certeza não quero perder muito do meu tempo na Terra com especulações inúteis. O caminho do autoconhecimento nesse sentido é absolutamente indispensável!
    Acabei de comprar o livro na Amazon por 1,99 formato Kindle! Obrigada pela dica!

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